Até o momento, o planeta já registra um aquecimento de 1,1ºC em relação às médias de temperatura antes da Revolução Industrial, sobretudo em função do crescente consumo de combustíveis fósseis no mundo, o que tem acarretado um aumento na concentração dos chamados gases de efeito estufa.
Esse aumento na temperatura média global tem afetado determinantemente a dinâmica climática, provocando alterações nos padrões climáticos aos quais estamos acostumados – que podem ser verificados no aumento da quantidade de dias extremamente quentes, nos dias consecutivos sem chuvas seguidos por chuvas torrenciais, no aquecimento das águas oceânicas, no derretimento das geleiras ou na submersão de grandes faixas de terra –, o que traz consequências diretas nas dinâmicas demográficas, sociais e econômicas nos territórios mais atingidos.
Tendo isso em vista, como o Investimento Social Privado (ISP) pode atuar nesse tema? Considerando a complexidade, abrangência e urgência desse debate, o ISP pode ter um papel estratégico em diferentes frentes, como no âmbito do investimento ou modo transversal a outros temas já desenvolvido pelas organizações.
É propondo saídas criativas para problemas complexos, ou trazendo à luz alternativas já existentes, que preparamos um guia e um conjunto de vídeos que reúnem ideias iniciais para uma maior incidência do campo do investimento social privado no tema de Mudanças Climáticas.
SENSIBILIZAÇÃO E ADESÃO À AGENDA
Perspectiva arraigada de que há uma dicotomia entre crescimento econômico e preservação ambiental; dificuldade de construção de uma agenda coletiva de longo prazo para as questões climáticas; restrição do debate sobre sustentabilidade e questões ambientais a um pequeno grupo de especialistas e ao campo ambientalista; comunicação pouco efetiva do conhecimento técnico; dificuldade de compreensão do tema de mudanças climáticas de modo mais abrangente.
GOVERNANÇA E FINANCIAMENTO NA ÁREA CLIMÁTICA NACIONAL
Desmobilização das instâncias responsáveis pela agenda climática; restrições por parte do governo federal na elaboração e atualização dos instrumentos de proposição e acompanhamento das políticas climáticas; concessões políticas na área ambiental; flexibilização do Código Florestal; pouca concessão de crédito para agricultura de baixo carbono; risco de perda do Fundo Amazônia em função do aumento do desmatamento; poucos recursos nacionais financiando as principais organizações que atuam com a questão climática no Brasil (em sua maioria mantidas a partir de investimento internacional); conjuntura política desfavorável ao debate ambientalista.
MODELO DE PRODUÇÃO
Atual modelo de produção com altas emissões de carbono; indústria brasileira com pouca abertura à inovação em seus processos de produção; dúvidas sobre como criar alternativas economicamente competitivas.
DESMATAMENTO
Problemas de regularização fundiária e ausência do Estado na regulação de terras e na fiscalização do desmatamento; conjuntura política de flexibilização do desmatamento.
MODELO DE TRANSPORTE
Modelo centrado em modais individuais e dependentes de matriz energética de combustíveis fósseis (petróleo) – tanto no caso do transporte de passageiros, quanto no de cargas; modelo de transporte excessivamente rodoviário, com poucas alternativas por outras vias, como a fluvial ou ferroviária; exclusão social e territorial de grupos mais vulneráveis como decorrência de fenômenos climáticos.
Inspire-se
IKEA Foundation
Trata-se de uma linha de apoio a programas relacionados ao enfrentamento às mudanças climáticas. Foram lançados dois ciclos de financiamento à temática do clima, somando 700 milhões de euros a serem investidos entre 2015 e 2023 – a chamada de projetos mais recente teve como foco a redução das emissões de carbono, a adaptação de comunidades às mudanças climáticas e o acesso à energia renovável.
Children´s Investment Fund Foundation (CIFF)
A organização trabalha com os temas de energia, redução de gases de efeito estufa, cidades sustentáveis, qualidade do ar, descarbonização industrial e reflorestamento.
Instituto Arapyaú
A organização realiza apoios pontuais relacionados a questões de clima desde 2012 e, a partir de 2014, passou a estruturar mais sua ação nesse tema, com a criação e participação na Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura. A partir de 2015, a organização estruturou um programa específico de Clima, que tem como foco o combate ao desmatamento. Esta área é voltada ao engajamento dos diversos setores para a criação de políticas públicas e negócios sustentáveis com foco na valorização das florestas.
Conexsus – Instituto Conexões Sustentáveis, em Parceria Com Fundo Vale, Kaeté Investimentos e Fundação Certi
Reúne uma rede de organizações sociais, instituições de pesquisa e inovação, empresas e empreendedores sociais em um laboratório de inovação aberta voltado à construção de alternativas de negócios que envolvam sistemas agroflorestais (SAFs) – em especial, direcionadas à recuperação e conservação das florestas, produção sustentável e aumento de renda de produtores.
Solar Sisters
Solar Sisters é uma organização que capacita e dá suporte a mulheres para criarem negócios sustentáveis em suas comunidades, voltados à produção de energia limpa. Para isso, a equipe da organização seleciona, treina e apoia novas empreendedoras, além de fornecer produtos e equipamentos a elas. A partir da participação no projeto, as empreendedoras ganham renda e vendem os produtos diretamente a pessoas que não têm acesso à energia. A organização já envolveu 3.400 mulheres e gerou acesso à energia limpa a mais de 1,4 milhões de pessoas em três países africanos (Nigéria, Tanzânia e Uganda).
Plataforma Climate Ventures
Buscando conectar clima, tecnologia, negócios e finanças, a iniciativa é um espaço de ação coletiva voltado a líderes de organizações de diferentes setores colaborarem para a formulação de soluções concretas para as organizações e para o ecossistema, catalisando processos de inovação. Reúne um grupo curado de 50 participantes convidados de diferentes tipos de instituições e setores e conta com o apoio técnico de mentoria (conhecimento e direcionamento estratégico) de 28 especialistas do campo em diferentes áreas dentro do tema mudanças climáticas.
Mary Robinson Foundation
O fórum reuniu mulheres líderes de 54 países que trabalham ativamente em questões de mudança climática, com foco na discussão dos desafios enfrentados e soluções desenvolvidas.
Rizoma
Lançada em 2018, a iniciativa tem sua atuação baseada em três frentes: operação agrícola; pesquisa e desenvolvimento; e fundos de investimento. O modelo consegue produzir a mesma quantidade de gado usando 30% da área, sequestrar 6,4 toneladas de gás carbônico por ano por hectare e ter uma taxa interna de retorno superior a 15%. Toda a tecnologia desenvolvida na iniciativa é open source, aberta para que outros agricultores possam utilizá-la, assim como o acesso às informações do negócio (indicadores, custos, produção, etc.).
Sitawi Finanças do Bem
O estudo avalia uma série de instrumentos financeiros e estratégias de mitigação capazes de alcançar resultados ambientais, sociais e econômicos para a região da Amazônia – incluindo os modelos de financiamento mistos (blended finance, que combinam recursos de doação com instrumentos financeiros reembolsáveis). Além disso, são investigadas cadeias de valor, tipos de empreendedores e tipos de investidores com potencial de envolvimento e transformação da economia da Amazônia brasileira.
Observatório do Clima
Contribuir para o entendimento da dinâmica do uso do solo, realizando estudos que geram uma série histórica de mapas anuais de cobertura e uso da terra do Brasil. O projeto procura desenvolver, implementar e disponibilizar (para outros países e regiões) uma metodologia rápida, confiável e de baixo custo para gerar mapas anuais de cobertura e uso do solo do Brasil.
Governo Federal, GVces, British Council e IIED
A ferramenta tem a intenção de sistematizar e disponibilizar informações e materiais sobre adaptação à mudança do clima, contribuindo para o acesso ao conhecimento e conectando os atores desta agenda no Brasil.
Instituto Alana
O Believe é um projeto do Alana Foundation que se identifica como um ativador de narrativas positivas, orientado pela missão de fortalecer causas de impacto socioambiental por meio da articulação de parcerias e co-criação de campanhas. A plataforma conta histórias de pessoas, fatos e soluções de impacto relevante na sociedade e no planeta.
Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), Artigo 19, Conectas Direitos Humanos, Engajamundo, Greenpeace, Instituto Alana e Instituto Socioambiental (ISA).
Dirigido por Thais Lazzeri, o documentário mostra como as mudanças climáticas já são uma realidade que afetam a vida de pessoas em diferentes regiões do Brasil a partir de seis histórias ilustrativas.
Engajamundo
Por meio de uma petição e de treinamentos nas escolas sobre geração de energia, o projeto se propõe a capacitar jovens estudantes para atuarem politicamente para pressionar as escolas e o poder público a investirem em transição energética.
FGVCes e Câmara Técnica de Monitoramento das Condicionantes da UHE Belo Monte (CT-5) do Plano de Desenvolvimento Regional Sustentável do Xingu (PDRSX)
O projeto busca monitorar o cumprimento de um conjunto de condicionantes do licenciamento ambiental da usina hidrelétrica de Belo Monte (Pará) e avaliar os resultados das políticas públicas e ações que se relacionam com essas medidas e os impactos no desenvolvimento na região que recebe o empreendimento
Greenpeace, Idec, Instituto Saúde e Sustentabilidade, Minha Sampa, Purpose e Rede Nossa São Paulo
O programa é um chamado para organizações de municípios brasileiros criarem campanhas de mobilização para transformarem o transporte público em suas regiões. A iniciativa selecionou campanhas em três cidades brasileiras (Rio de Janeiro, Campinas e João Pessoa) para serem apoiadas e criarem capacidades para pressionarem os poderes públicos locais a aprovarem uma legislação que garanta combustíveis limpos.
Trata-se de um movimento multissetorial composto por instituições do agronegócio, organizações da sociedade civil atuantes na área de meio ambiente e clima, representantes do meio acadêmico, associações setoriais e empresas de diversas áreas. A iniciativa promove o diálogo entre esses campos em torno de questões decorrentes das mudanças climáticas, a partir da perspectiva de uma nova economia, baseada na baixa emissão de gases do efeito estufa.